quinta-feira, 7 de junho de 2007

A sexualidade e seu filho


É importante desenvolver conceitos saudáveis sobre sexo desde a infância.
Entrou em meu consultório como qualquer outra menina de 14 anos — inocentemente, sem nada sério em mente. Sentou-se na cadeira e se pôs à vontade. Perguntei-lhe o propósito de sua visita.
Iniciar um controle de natalidade foi a resposta.
— Por quê? — indaguei.
— Vou iniciar minha vida sexual.
Pega de surpresa pela resposta, continuei perguntando:
— Por quê?
— Meu namorado quer.
— E você quer?
— Não sei.
To­dos os dias, milhares de adolescentes se tornam sexualmente ativos.Embora eu aplaudisse seu desejo de iniciar a contracepção antes de se tornar sexualmente ativa, fiquei desapontada com seu raciocínio e a relativa ingenuidade com que estava entrando numa relação sexual. Ainda mais que namorava há menos de um mês.
De onde ela tirou essa idéia? Qual era a fonte de suas informações sobre sexualidade? O que pensava de si mesma e como pôde permitir que o namorado tomasse a decisão por ela? Levei mais ou menos uma hora falando sobre o que a motivava, o que ela sabia sobre sexualidade e partilhando algumas opções que não havia considerado. Essa situação não é incomum. To­dos os dias, milhares de adolescentes se tornam sexualmente ativos. Mais de 50% dos estudantes de segundo grau americanos já tiveram relação sexual. Isso ocorre em grande parte em resposta à pressão social e de grupo, percepções distorcidas do tipo “todo mundo faz isso” ou simples­mente curiosidade. Os adolescentes estão se envolvendo em sexo sem o conhecimento ou compreensão da complexidade de uma relação sexual e suas conseqüências.

Mensagens confusas

Os conceitos saudáveis sobre sexualidade e relações sexuais devem começar cedo, para que as
crianças se tomem adultos normais. O que é proibido na adolescência precisa mais tarde ser visto como desejável na vida de casado. A transição pode ser feita mais facilmente quando é alcançada uma compreensão adequada do comportamento sexual apropriado para determinada idade. Infelizmente, os adolescentes obtêm grande parte de suas informações sobre assuntos de sexualidade e de comportamento aceitável com seus colegas, a mídia ou outras influências sociais.
A quantidade de tempo gasta vendo televisão é maior do que a gasta na educação escolar. Todos os dias, as crianças são bombardeadas com mensagens sexuais da IV, de propagandas, filmes e músicas. Os casais de namorados são vistos em relações sexuais de quatro a oito vezes mais que os casais casados. As conseqüências da atividade sexual precoce (gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, alterações pré­cancerosas do cérvix, sofrimento emocional) raramente são vistas. A contracepção quase nunca é mencionada. Numerosos estudos indicam que uma significativa proporção de adolescentes acha que a televisão retrata realisticamente o comporta­mento sexual.
O bombardeamento de mensagens sexuais na sociedade tem desempenhado papel significativo na diminuição da média de idade para a maturidade sexual. O desenvolvimento de desejos e necessidades sexuais antecede a maturidade intelectual. Vemos nossos filhos com “hormônios descontrolados”.

Escola versus lar

As escolas são limitadas. Os cursos de educação sexual proporcionados pelo sistema escolar conseguem aumentar o conhecimento sobre a sexualidade. O que não conseguem, porém, é ter um impacto significativo na mu­dança de atitudes para com o sexo pré-marital, o controle de natalidade e outros assuntos relacionados à sexualidade. Nem conseguem ter um impacto efetivo sobre a auto-estima ou a satisfação com os relacionamentos sociais.
Essas mensagens sobre auto-estima, imagem corporal, papéis de cada sexo e relacionamentos interpessoais são aprendidas dentro do contexto familiar. Precisam ser feitos esforços para comunicar mensagens positivas, a fim de desenvolver um conceito saudável de sexualidade.
Os valores familiares (inclusive religião) precisam ter um impacto sobre o comportamento, através do exemplo.Muitos pais se acham mal-informados para comunicar conceitos de sexualidade a seus filhos. Cresceram numa época em que o assunto não era discutido em família e os programas de televisão não mostravam tantas ce­nas de sexo. Contudo, os pais precisam tomar a iniciativa de proporcionar educação.
O que os pais podem fazer?
• Aceitar o fato de que os adolescentes são seres sexuados, com desejos sexuais. Comunicar aos adolescentes que esses desejos são normais. Perguntas sobre mudanças corporais e emocionais devem ser vistas como uma oportunidade para discutir a sexualidade.
• Ouvir as perguntas deles (inclusive as não verbais). Muitos adolescentes anseiam partilhar seus sentimentos com seus pais, mas estão convencidos de que não ouvirão, não terão tempo ou não entenderão. Comece a ouvi-los na infância. Seja aberto às perguntas deles, respondendo-as da melhor for­ma possível. A disposição de abordar essas situações comunica aceitação.
• Respeitar a privacidade deles. A confiança é importante em qualquer relacionamento. Ocorrem tensões entre pais e adolescentes quando a privacidade é violada.
• Usar a mídia para proporcionar oportunidades de lançar “discussões familiares” sobre qual é o comporta­mento sexual adequado.
• Comunicar os valores familiares através de exemplo e conversação. Os adolescentes precisam saber o que se espera deles. Se isso não for partilha­do no lar, será partilhado fora.
• Ajudá-1o a lidar com a pressão de grupo. Informá-los de que nem todo mundo “faz isso”, que o sexo num relacionamento não irá curar as
diferenças, que não é prova de amor.
• Encorajar a responsabilidade sexual (o comportamento que estabelece limites para a intimidade). Eles precisam saber que os aspectos emocionais de uma relação sexual requerem um intelecto amadurecido.
• Educá-los sobre a abstinência. Embora não seja vista com bons olhos por muitos adolescentes, a abstinência tem muitos benefícios. Ela retarda o envolvimento sexual até que seja alcançada a maturidade emocional, intelectual e física. Protege o adolescente dos efeitos prejudiciais de relacionamentos “para experimentar” e permite que os relacionamentos desfeitos estejam livres de culpa e de preocupação com doenças. A abstinência é a única forma de contracepção total­mente segura.
A decisão de abster-se de atividade sexual, contudo, só pode ser tomada por um adolescente cuja auto-estima foi saudavelmente desenvolvida desde a infância. Os valores familiares (inclusive religião) precisam ter um impacto sobre o comportamento, através do exemplo. A educação sexual começa na infância, com os pais transmitindo orientações apropriadas à idade em cada fase do desenvolvi­mento.
Como falar com seus filhos sobre sexo? As fontes de informações são numerosas. Consulte seu médico, verifique na livraria, pergunte a líderes religiosos. Essas fontes podem dar-lhe os fatos e ajudá-lo a comunicá-los mais eficientemente.
A garota deixou o consultório, naquele dia, com o conhecimento de que era um ser livre e podia tomar suas próprias decisões. Não tinha de ceder às pressões do namorado. Ha­via mais em jogo do que um relacionamento — sua auto-imagem, sua futura saúde sexual.Sorri enquanto ela estava saindo. Se ninguém mais tinha tomado tempo para partilhar essas informações com ela, pelo menos dentro dos limites daquela visita ao consultório, eu tinha tido a chance de talvez fazer uma diferença em sua vida.
Bibliografia: Vida e Saúde, janeiro de 1995. Ed. Casa Publicadora Brasileira

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